terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sobre politicamente correto e o politicamente incorreto

Acho extremamente reducionista e desonesto quando alguém diz "a ditadura do politicamente correto" ou "eu sou politicamente incorreto, posso falar isso". Essas frases sempre vem seguidas de "censura, censura". É no mínimo curioso que essas palavras "correto e incorreto" sempre são invocadas quando alguém aponta algo preconceituoso que uma pessoa está fazendo. Por exemplo, se você disser "fulanx, essa atitude X é racista" logo em seguida você irá ouvir "como assim racista? não podemos mais falar nada hoje em dia? é a ditadura do politicamente correto, é censura". Magicamente essa pessoa que grita pelo politicamente correto é a mesma que acha que pessoas negras não estão em uma "situação melhor" porque não querem. Afinal, você pessoa branca não tem nada a ver com o fato do genocídio da população negra, a culpa é da sociedade e não sua, né?  Você, pessoa branca, colocará a culpa na sociedade e esquecer que faz parte dela. Ou então colocará a culpa nas pessoas negras, argumentando que elas é que são culpadas pelo racismo. Empatia aqui é zero. E sempre vem alguém pra dizer "ah, tenho um amigo negro que ri disso. você que não tem humor". A pessoa que foi apontada como preconceituosa não consegue entender que a piada ou o comentário que está fazendo só contribui para que nossa sociedade seja mais preconceituosa. A pessoa não entende que ofender alguém porque ela tem uma identidade marginalizada não é engraçado, é VIOLÊNCIA. Rir de quem é marginalizado é VIOLÊNCIA, não é humor. Tentar justificar que você tem um amigo marginalizado e ele ri disso é VIOLÊNCIA, porque você não sabe porque seu amigo que é marginalizado ri disso, você não sabe os motivos.

Veja bem, tudo isso é dito porque você foi lá e apontou uma atitude preconceituosa, mas a pessoa se nega a repensar. A vida seria mais fácil se quando alguém apontasse uma atitude preconceituosa você simplesmente desse dois passos para trás e repensasse o motivo de ter feito a piada ou o comentário sobre uma identidade marginalizada.

Vou deixar uma dever de casa pra vocês: por que vocês acham que é tão fácil fazer piadas com pessoas marginalizadas? Por que é tão comum fazer piadas com pessoas que escapam da normatividade? Por que ninguém faz piada com o homem cis, hétero, branco, rico? Apenas se perguntem.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sobre transfobia

Nos últimos meses venho pensando bastante sobre como autocrítica e reconhecer meus próprios privilégios são importantes para minha luta feminista. Um grupo que me ajudou muito nisso foi a lista das Blogueiras Feministas. Lá eu descobri que tinha atitudes racistas  e transfóbicas. Não foi fácil descobrir tudo isso, eu me achava uma pessoa muito legal e coerente, completamente livre de preconceitos até que um belo dia entendi que estou muito longe de não ter preconceito nenhum. Mas, acredito que o pior problema era não entender esses preconceitos, fingir que eles não existiam, a muralha do feminismo me protegia de tudo que eu poderia fazer e isso era ruim, muito ruim.

Através de muitas críticas me deparei com meus próprios privilégios. E veja, nunca fui criticada por questões pessoais. Nunca disseram "Thayz, sua bobona. Você é uma ridícula". Não. A crítica era "Thayz, você está sendo transfóbica". Se isso doeu? Claro, é chato. Ninguém gosta que apontem quando você erra. Quando percebi que estava sendo transfóbica fiquei com muita raiva, discursei pra muita gente o quanto estava sendo vítima de toda essa situação, clamei por minha própria justiça já que eu me considerava uma feminista perfeita. Felizmente tudo isso durou um pouco mais de 24 horas e aí comecei a questionar o motivo de estar no feminismo. Cheguei a conclusão que não estou no feminismo por vaidade. Tô no feminismo porque quero reavaliar minhas atitudes e tenho plena consciência que isso vai acontecer durante toda minha vida. Sempre vou rever minhas atitudes, sempre. Muita gente diz que isso é policiamento. Bem, que seja! Eu me policio sim. Policio minhas atitudes sempre para não reproduzir opressão. Me pergunto como conseguiria praticar e militar dentro do feminismo se reproduzisse preconceitos sem fazer esforço algum para mudar ou fazendo vitimismo. E quando digo preconceitos são todos mesmo e não só aqueles que todos concordam. É olhar para nossa fala, entender o que ofende, o motivo de reproduzir tudo isso. Não consigo militar em um movimento em que deixam pessoas oprimidas para trás. Ou vem todas as pessoas, ou não vem ninguém.

Dia da Visibilidade Trans* em Curitiba - PR - 2013.

E foi nesse pensamento, nesse debate com meu próprio privilégio que descobri que a transfobia e cissexismo são opressões menores pra muita gente. Machismo é algo que revolta todo mundo, geral clama por sororidade. Mas, quando uma mulher trans*, por exemplo, denuncia transfobia várias feministas correm para chamá-la de misógina e a sororidade bonita acaba de uma vez. Tem uma ruma de gente que já falou exatamente o que eu sinto sobre sororidade, aqui, aqui e aqui.

Bem, eu não sou dona do feminismo. E nem acredito que o feminismo tenha uma voz única. Mas, eu não consigo imaginar um feminismo que é transfóbico. Pra mim não faz sentido, não casa, não transa. Ser transfóbica e cissexista dentro do feminismo é deixar pessoas trans* para trás e que tipo de movimento que se sujeita a lutar contra opressões deixa pessoas oprimidas para trás? Por que a transfobia e cissexismo são vistos muitas vezes como uma opressão irrelevante? Ora, o feminismo tem que levantar a bandeira contra a transfobia do mesmo jeito que levanta contra o machismo. Não há opressão menor, não deve haver opressão irrelevante. E por isso, não deve haver transfobia e cissexismo no feminismo.

Muitas pessoas dizem "ah, acho muito confuso essa coisa de cis e trans*". É mesmo? Fica mais fácil quando você tira o binarismo de gênero dos seus olhinhos. Você sempre pode ler sobre isso aqui, você sempre pode perguntar pra mim aqui nessa caixa de comentários porque eu ainda tenho uma paciência bonita graças ao yôga. Mas, você nunca, nunca, nunca deve fazer uma pergunta ou falar coisas ofensivas para pessoas trans*, se você está aqui na internet quer dizer que pode conseguir pesquisar sobre esses assuntos. E se mesmo assim uma pessoa trans* apontar que você fez algo ofensivo por algum motivo, não fique se defendendo. É feio. Reflita sobre o motivo da sua ofensa, entenda o que rolou e peça desculpas. E antes que venha alguém dizer que não sair por aí gritando misoginia quando se é acusada de transfobia é silenciamento: não, não é. Silenciamento é o que acontece com pessoas trans* todos os dias. Não só silenciamento, mas também apagamento, violência, invisibilidade. Afinal, alguém questiona todos os dias a identidade de gênero de uma pessoa cis? O mínimo que nós militantes feministas cis devemos fazer é ser aliadas, é não silenciar-se quando ocorrer qualquer tipo de opressão, inclusive a transfobia e o cissexismo. Não dá mais pra fingir que o feminismo é bonito e acolhedor, porque enquanto pessoas ficam fazendo feminismo por vaidade pessoas trans* estão sendo violentadas.

"O seu silêncio não vai te proteger".
 Audre Lorde

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

De todas as minhas faces, a minha religião é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime

Comentário deixado por Lucila no texto ‘Ui, quebraram a santa’.
Olá, Estava acompanhado a polêmica da Marcha das Vadias e cheguei até aqui. E para dizer que concordo. Sou católica, e cada vez mais, depois que uma condição de saúde na família me carrega para fé e, bem, não tenho tempo de procurar a menos contraditória e me peguei àquela que conheço desde a infância, mesmo. Mas sou feminista, também. Não dessas que conheci na internet, que querem ver suas escolhas individuais serem aprovadas e não julgadas, embora as entenda. E estas têm de se habituar ao conflito e a reflexão. Não me choquei com a performance. Pode ter sido contravenção? Pode, mas todo ato manifesto corre esse risco. Pode ter sido de mau gosto? Pode, mas gosto é questão subjetiva. Pode ter sido opressor? Não. Não oprimiu a instituição e não oprimiu o fiel. Pode ter chocado alguns, os mais idosos, espero, que nunca viram clips da Madonna, O Exorcista, essas coisas que usaram os símbolos católicos para ganhar dinheiro. Muito, aliás. De todas as minhas faces, a minha religião é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime. E, por isso, é vidraça, está exposta à crítica, tenha esta a forma ética, estética ou política que tiver.Quem dera fosse sempre uma comédia de Monthy Python, uma música do Titãs, um filme de Zeffirelli. Em não sendo, qualquer coisa é melhor que a apatia irrestrita. Que se faça o debate!
“De todas as minhas faces, a minha religião é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime”.
E é tão simples e por isso tão genial. E capaz de resumir toda forma de opressão e toda autocrítica que se pode e se deve fazer a respeito dela.
“De todas as minhas faces, ser branca é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime”.
De todas as minhas faces, ser heterossexual é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime”.
De todas as minhas faces, ser cissexual é a única que não me deixa como minoria, por ser ela quem oprime”.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Você conhece a palavra de Foucault?


Ano passado foi aquela correria pra terminar a faculdade. E nessa correria toda esqueci de contar uma história bizarra (sim, eu sei que minhas histórias sempre são bizarras). Gente. Tô aqui, viu? No meio desse caos eu sempre pensava que se a Marisa Lobo e o Malafaia conseguiram, eu também podia. Ufa, agora sou oficialmente uma psicóloga séria e renomada, vejam só:



Tem poucas coisas na vida que eu espero com afinco, entre elas estão esbarrar com o Tarantino, ver um mundo menos preconceituoso, conseguir tomar sorvete e comer pipoca todos os dias sem engordar e não ser perturbada às 07:30 da manhã quando estou indo para o trabalho em um ônibus lotado. Nesse exato momento do dia eu sou especificamente um zumbi e eu acredito que isso fica muito claro para as pessoas.

Estava no ônibus indo pro trabalho e milagrosamente surgiu um lugar vazio, fui correndo sentar. Reforcei minha cara de zumbi, peguei a História da Sexualidade do nosso querido Foucault para ler, coloquei o fone no ouvido para ninguém me perturbar e isso ainda não foi o suficiente para que a criatura do meu lado entendesse que isso é quase uma placa de NÃO PERTURBE.

Quando estava chegando no lugar que iria descer, acordei do meu sonho e a criatura que estava sentada do meu lado sorriu. Fiquei com medo, dei o sorriso monalisa mais sem graça que já existiu. Quando estava arrumando minhas coisas (eu carregava o mundo inteiro na minha mochila) a criatura sorridente diz pra mim:
Criatura Sorridente – Olá, tudo bem? Bom dia!
Thayz Zumbi- Oi. (Com a minha maior cara de susto)
Criatura sorridente – Você conhece a palavra de deus? (E me entrega um panfleto)
Thayz Zumbi – E você? Conhece a Palavra de Foucault? (Ergo a História da Sexualidade I)
A Criatura Sorridente faz uma cara de confusa e o sorriso vai sumindo.
Thayz Zumbi – Bom dia pra você também, que Foucault te acompanhe.

Thayz espantando pessoas simpáticas desde 1985. 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Dos absurdos do dia a dia

Quem não ouviu um absurdo durante o dia que jogue a primeira pedra! Eu sou uma moça privilegiada, então ouço 50 absurdos por segundo. Depois de muito penar nessa vida, eu aprendi a fazer cara de monalisa com variações para cara de abacaxi.Tirando todas as histerias conversivas que eu tenho pelo fato de não falar o que eu penso, até que tô indo bem.


Mas, se tem uma coisa que ainda me deixa com cara de retardada é quando as pessoas querem discutir uma situação super séria simplificando tudo com o simples "é minha opinião".

Ok, eu não tenho nada contra a sua opinião pessoal, eu acho que por mais absurda que ela seja, todo mundo tem direito de ter uma opinião. O que me incomoda é colocá-la como verdade para todos e ai nós entramos em outra questão completamente diferente de ser sua opinião ou não, estamos falando de eleger uma verdade e/ou moral para julgar as pessoas, colocando elas em duas instâncias: certo ou errado. Veja bem, você vai eleger o certo ou errado para uma terceira pessoa que, por mais que você insista, nunca vai ter a mesma experiência que você. E é dai que vem o meu grande preconceito quando as pessoas em uma discussão sobre ter filhos ou não, por exemplo, afirmam que não ter filhos é estranho. Ora, é estranho para você! E para várias outras pessoas pode não ser e ai você não precisa nem se dar o trabalho de resolver isso pelo outro, deixem que os outros resolvam. Que tal? Facilitou a vida? Ótimo, tentem fazer isso a partir de hoje.

Agradecida.